Senhora Paulina Teodoro da Silva recebe homenagem póstuma do Poder Legislativo de Itapoá

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Criado em Segunda, 30 Junho 2014

Os vereadores prestaram homenagem para uma cidadã itapoaense pioneira da colonização da comunidade do Saí Mirim. A senhora Paulina faleceu no dia 02 de junho de 2014, em Mafra-SC.


Texto da Moção apresentada pelos vereadores de Itapoá

A Câmara Municipal de Itapoá manifesta seu profundo pesar pela morte da Senhora Paulina Teodoro da Silva, falecida aos 02 dias do mês de junho de 2014, em Mafra/SC.

Nascida aos 15 dias de fevereiro de 1937, na cidade de Cabras, hoje município de Penha/SC, a Senhora Paulina foi uma pioneira da colonização da comunidade do Saí Mirim, neste município de Itapoá. A história da trajetória de sua vida foi contada por ela mesma, no ano de 2011, em virtude da pesquisa da História de Itapoá, para a Edição do I Guia Histórico, Turístico e Cultural de Itapoá.

Paulina tinha apenas um ano e dez meses quando chegou de canoa com seus pais, José Romão Teodoro e Francisca Petronilha da Conceição. Entraram nesta região pela Baía da Babitonga e se instalaram em Barrancos, município de Garuva/SC. Alguns anos mais tarde a família mudou-se em um carro de bois, para a localidade de Bom Futuro, também município de Garuva, onde residiam apenas cinco famílias.

Naquela época as dificuldades eram muitas, não havia eletricidade, nem como adquirir facilmente querosene para o lampião. A iluminação provinha das sementes de bucuva, que continha um óleo natural, e o fogo era ateado na própria semente. Cada vez que acendiam a bucuva, tinham o hábito de rezar e pedir proteção divina. Disse ela que, apesar da luta pela sobrevivência, sua infância foi muito boa, estudou até a 3ª série em uma pequena escola no Bom Futuro. Quando andava pelas picadas no meio da mata ficava encantada com a beleza e o canto dos passarinhos. “Era tudo muito bonito”, afirmava. Seu pai foi um dos pioneiros desbravadores que ajudou a abrir caminhos na região do Bom Futuro e Saí Mirim. A família sobrevivia com a venda de cipó de liaça, que era vendido a Henrique Speck e irmãos, para a produção de vassouras.

No dia 16 de julho de 1953, Paulina se casou com Abílio da Silva, fixaram residência no Saí Mirim, morando a princípio no Engenho de Alberto Speck, e posteriormente construíram sua primeira casa, que era coberta de palha. Nesta época, em Itapema do Norte, havia somente oito casas, também cobertas de palha, e o acesso à praia era demorado e difícil.

O primeiro símbolo de fé fixado no Saí Mirim foi uma cruz, depois foi construída a antiga igreja. Abílio foi o primeiro capelão da localidade, o casal e a família participaram também ativamente para a construção da atual Igreja Nossa Senhora Aparecida, bem como das Festas da Padroeira, realizadas desde os anos de 1950, sendo a segunda festa religiosa mais antiga de Itapoá. Com o passar dos anos e a família aumentando, o casal construiu uma nova casa, a qual Paulina viveu até seus últimos dias. Dedicavam-se ao trabalho na roça, conheceram cada palmo de terra da região, produziam para o próprio consumo arroz, milho, feijão, aipim, batata, Taiá Japão e branco, abóbora, entre outros. A farinha de mandioca era processada no engenho de Alberto Speck, levada a cavalo ou carroça até Via da Glória, e de barco até São Francisco do Sul, onde era comercializada.

Os filhos todos nasceram de parto em casa, quando adoeciam eram colocados em um “serão” e levados a cavalos até o barco para São Francisco do Sul, onde havia médico, ou então, levados a pé a Garuva, onde havia farmacêuticos. A caminhada demorava em torno de seis horas.

Paulinha gerou 14 filhos: Maria, José, Valdevino, as gêmeas Marília e Marilda, Pedro, Paulo (in memoriam), Teresinha, Isabel, Margarida, Bernadete, Salete, Vandelino e Sérgio, que se tornou o primeiro padre itapoaense a ser ordenado, motivo de grande alegria a Dona Paulina. Todos os filhos iniciaram os estudos na própria comunidade do Saí Mirim, dona Paulina e seu esposo Abílio, eram pais presentes.

Devotos de Nossa Senhora Aparecida, o casal visitou o Santuário de Aparecida do Norte e, para Paulina, foi a realização de mais um sonho. No ano de 2002 Abílio veio a falecer, motivo de grande tristeza, mesmo assim manteve sua fé na vida, sempre se dedicando à família e à comunidade. Recentemente Paulina recebeu do Santuário de Aparecida o título de “Apóstola da Comunicação”. Na comunidade do Saí Mirim não perdia uma celebração na capela, onde ela era ministra da eucaristia.

Em 3 de maio de 2014, Paulina participou do casamento de sua neta Gislaine, celebrado por seu filho Padre Sérgio, cidadão honorário deste Município. No dia 16 de maio, participou da ordenação de seu neto Anderlei da Silva Alves, também itapoaense, ordenado padre na cidade de Joinville. No dia 18 do mesmo mês, participou da primeira missa realizada pelo neto na comunidade do Saí Mirim, ocasião está em que comentaram sobre sua serena felicidade a qual ela respondeu: “Sim, estou muito feliz, agora posso morrer em paz”.

Passada uma semana seu estado de saúde piorou, sempre amparada com muito amor e carinho pelos familiares, foi levada ao Pronto Atendimento de Itapoá que a encaminhou a Guaramirim, de lá para Mafra, devido à falta de vagas em UTI's dos hospitais vizinhos. Após 12 dias internada, veio a falecer naquela cidade, aos 77 anos de idade, deixando uma lacuna na vida dos familiares que a consideravam o esteio da família. Seu enterro foi acompanhado por uma legião de pessoas que sentiam por ela apreço e consideração. Seu corpo jaz no cemitério do Bom Futuro, em Garuva, onde seus pais e esposo também foram enterrados.

Paulina foi uma pessoa que transmitiu paz, carinho e alento aos que a conheceram. Deixou como herança aos filhos, e aos mais de 30 netos, bisnetos, genros e noras um grande exemplo de religiosidade e atitudes nobres que a fizeram uma pessoa querida e respeitada em sua comunidade. Foi uma mulher de fibra, que soube manter a família unida pela fé e trabalho. Foi uma mulher que vivenciou o pioneirismo e colonização desta região, uma mulher que se tornou o baluarte de sua família, ganhando respeito e admiração de todos. Foi uma mãe e esposa dedicada, uma mulher que participou ativamente da história da comunidade do Saí Mirim. Que seu exemplo de vida e legado como patrimônio imaterial do pioneirismo desta Cidade, seja também perpetuado através desta Moção.